Pandemia
Cientistas descobriram a origem do vírus em chimpanzés do Centro de África, no início do século XX. A caça, a manipulação e consumo destes animais junto da capacidade do vírus de se adaptar a uma nova espécie, terá sido o início da infeção e propagação em humanos. A dispersão do vírus em África foi favorecida pelo desenvolvimento das vias de comércio entre países africanos e a alteração de condutas sexuais na sociedade. Era uma questão de tempo até que o vírus se propagasse pelo resto do mundo.
No início dos anos 80, nos EUA, houve um aumento progressivo de pessoas falecidas como consequência de doenças e tipos de cancro pouco frequentes. O ponto em comum era um sistema imune fragilizado. Em 1983, a comunidade científica reuniu evidências suficientes sobre a existência do vírus e as vias de transmissão. A sociedade precisava de ser educada, de forma urgente, nas medidas de prevenção da infeção.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 78 milhões de pessoas foram infetadas com o vírus desde o início da epidemia e mais de 34 milhões faleceram devido à SIDA (síndrome da imunodeficiência adquirida, última fase da doença). Atualmente, cerca de 37 milhões de pessoas no mundo vivem com o HIV (vírus da imunodeficiência humana) (registos até o final de 2013).
Expetativa e qualidade de vida dos seropositivos
Devido aos conhecimentos científicos e aos fármacos disponíveis atualmente, a incidência da SIDA tem vindo a diminuir e, hoje em dia, a seropositividade (presença do vírus) é encarada como uma condição crónica. Os seropositivos submetidos a tratamento antirretroviral têm melhor qualidade e expetativa de vida, pelo que muitos casais em que um ou ambos os membros são portadores do vírus, ponderam ter filhos. Perante esta necessidade (e direito) dos casais portadores, foram desenvolvidas alternativas reprodutivas para concretizar esse desejo de forma segura para o casal e para a sua descendência.
A evolução dos tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA) para homens portadores de HIV
Neste sentido, temos três pontos fundamentais que devem estar controlados: a estabilidade imune do portador do vírus, a segurança do membro do casal não portador e da sua descendência e a segurança na manipulação laboratorial do material biológico infeccioso.
Os espermatozoides não têm os recetores necessários para a inclusão celular do vírus mas este pode ser transportado no plasma seminal e noutras células. Por este motivo, as técnicas de reprodução assistida aplicadas nos pacientes seropositivos estão focadas na separação dos espermatozoides dos restantes componentes seminais, na eliminação do HIV no entorno dos espematozoides e na manipulação e utilização do material biológico em segurança. O processo, denominado lavagem de sémen, finaliza com uma análise de biologia molecular para a confirmação da carga viral negativa em parte da amostra lavada. A outra parte permanecerá em quarentena até obtenção do resultado da análise. Uma vez confirmada que a amostra se encontra livre do vírus, poderá ser utilizada de forma segura.
Este procedimento requer de equipamentos e espaço físico de trabalho em segurança biológica e de profissionais formados, motivo que limita o número de Centros que o realizam.
Artigo escrito pela Dr.ª Susana Alves, Diretora do Laboratório de Andrologia do IVI Lisboa
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