No âmbito do Dia Mundial da Menoupausa o blog publica um artigo da Dra. Filipa Santos, psicóloga do IVI Lisboa, sobre o que é a menopausa precoce e como pode afetar a vida mulher.
O que é a menopausa precoce
A menopausa ocorre em média entre os 45 e os 55 anos. A menopausa precoce (MP) é uma condição médica, na qual os ovários deixam de funcionar corretamente antes dos 40 anos de idade. Estima-se que a MP afeta 1 em cada 100 mulheres antes dos 40 anos e 1 em cada 1000 mulheres antes dos 30 anos. Mulheres com uma falência ovárica precoce podem ter ciclos menstruais irregulares e podem eventualmente conseguir engravidar. Uma mulher com MP deixa de ter menstruação e já não consegue engravidar naturalmente.
A importância do que a mulher sabe sobre a sua fertilidade
É fundamental que todas as mulheres possam ter acesso a informação individualizada acerca da sua fertilidade, de forma a poderem ir ao encontro do seu projeto reprodutivo. No contexto de baixa reserva ovárica ou adiamento da maternidade, a opção de vitrificar ovócitos poderá ser algo a ponderar. Uma mulher com menos de 40 anos, que note uma irregularidade nos seus ciclos menstruais ou que deixe de ter menstruação deve procurar ajuda médica para identificar a causa desta alteração. Qualquer mulher entre os 30 e os 35 anos, deve ter acesso a informação acerca da sua fertilidade e das opções existentes, para que possa tomar decisões informadas e refletidas acerca do seu projeto reprodutivo.
O impacto psicológico da menopausa precoce na vida da mulher
Quando é feito o diagnóstico de MP é relativamente comum surgirem sentimentos de choque, zanga, tristeza ou ansiedade. Muitas vezes é um diagnóstico inesperado e que coloca a mulher num lugar de muitas incertezas e procura de respostas, tanto relativamente ao que terá levado à MP, como quanto às implicações futuras. A MP é associada a uma perda da capacidade de conceber uma criança – infertilidade. Esta perda pode ser bastante significativa para as pessoas que veem o seu projeto reprodutivo interrompido, seja porque ainda não têm filhos (e desejam ter), seja porque desejam ter mais filhos e sentem que a sua família ainda não está ainda completa. Este tema é particularmente relevante por ser algo que muitas mulheres desejam e projetam para as suas vidas, mas sobretudo num contexto social em que as mulheres cada vez mais adiam a maternidade, seja por questões educacionais ou profissionais, financeiras ou de relação.
Para algumas mulheres, a fertilidade está diretamente relacionada com o seu sentido de identidade e valorização pessoal. Nestes casos, o diagnóstico de MP pode também ter um impacto grande a nível da identidade e da autoestima, gerando sentimentos de inadequação ou de falha na forma como estas mulheres se percecionam. A nível emocional, são comuns os sentimentos de perda, desânimo e tristeza. Para além destes sentimentos, poderão ainda ser exacerbadas as mudanças de humor, a irritabilidade ou a sintomatologia depressiva ou ansiosa.
O impacto físico da menopausa precoce na vida da mulher
Para além destas alterações a nível do humor, com a MP pode ainda surgir um aumento de peso, alterações hormonais, afrontamentos, suores noturnos, secura vaginal, dor durante as relações sexuais, diminuição da libido, perturbações do sono, dificuldades de concentração, ou baixa dos níveis de energia. Tudo isto pode ter um impacto na imagem corporal assim como na autoconfiança, levando por vezes a sentimentos de insatisfação com a aparência física que levam a um maior isolamento social ou a dificuldades a nível dos relacionamentos.
Engravidar através de tratamento de fertilidade
Algumas destas mulheres poderão ter de recorrer a tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA) para conseguirem engravidar, nomeadamente com recurso a doação de óvulos. Para a maioria, este tema é algo que nunca tinham ponderado antes e que gera muitas dúvidas e medos quando se projetam no futuro. Nestes casos é fundamental procurar um especialista em saúde reprodutiva com quem possam discutir as opções reprodutivas e de tratamento.
Os conselhos da psicóloga
A combinação de infertilidade, sintomas físicos, baixa de energia e baixa autoestima, variações de humor podem ter um impacto negativo na vida sexual da pessoa e também na sua conjugalidade. O casal deve discutir o que sente e as preocupações que daí advêm de uma forma aberta e honesta, abordando os sentimentos, medos e necessidades de cada um. É muito importante ajudarmos as mulheres a sentirem que podem abordar este tema sem tabus nos seus diferentes contextos relacionais.
É fundamental para quem experiencia a MP identificar e lidar com o impacto psicológico do que está a acontecer. Procurar apoio junto de amigos ou familiares próximos, grupos ou associações, permite partilhar a vivência com pessoas que consigam compreender, validar e confortar. Quando a sobrecarga emocional associada à MP se torna excessiva é importante considerar a possibilidade de fazer terapia ou aconselhamento psicológico para aprender estratégias de coping eficazes para lidar com este desafio.
Cuidar do seu bem-estar físico e emocional através de atividades de autocuidado, mantendo um estilo de vida saudável, ter uma boa rotina do sono, praticar relaxamento físico, técnicas de respiração e meditação, envolver-se em atividades que promovam o bem-estar, são alguns exemplos de comportamentos a adotar. Manter o foco nos aspetos da vida que se podem controlar e nas oportunidades de desenvolvimento e valorização pessoal que existem é uma postura a potenciar.
Lidar com a MP é um caminho que pode ser desafiante e ao longo do qual é necessário procurar ajuda profissional, de forma a promover uma melhor adaptação ao diagnóstico, seja a nível emocional, seja a nível físico. A mulher não pode ser definida pela sua fertilidade.
Se tiver alguma dúvida, deixe-nos o seu comentário. A Dra. Filipa Santos terá todo o gosto em ler e responder aos vossos comentários.
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