A endometriose é uma doença tão dolorosa como desconhecida. Afeta cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo – calcula-se que uma em uma cada dez sofra com os seus sintomas. É uma das principais causas de infertilidade. Consiste no aparecimento e crescimento do tecido endometrial fora do útero. Caracteriza-se por provocar fortes dores pélvicas durante a menstruação ou dor pélvica crónica, que pode chegar a ser invalidante.
A procriação medicamente assistida pode ser a resposta adequada para os problemas de fertilidade destas mulheres. A vitrificação de ovócitos pode ser a solução para concretizar o projeto reprodutivo no futuro. Tanto para as mulheres que se submetem a uma cirurgia que possa comprometer a fertilidade, como para aquelas que simplesmente desejem adiar a maternidade. De facto, nos últimos 10 anos, mais de 300 mulheres procuraram o IVI com problemas de fertilidade derivados da endometriose.
Para o Dr. João Calheiros Alves, ginecologista, especialista em medicina reprodutiva do IVI Faro, na atualidade o enfoque clínico em relação a esta doença está a mudar. “Não houve nenhum avanço no tratamento sintomático da endometriose nos últimos nos, continua sem existir cura. A diferença é que agora o diagnóstico e início do tratamento são mais pragmáticos e isso ajuda a melhorar a qualidade de vida de quem padece endometriose.”
“Antes podia demorar até 6 anos até ser diagnosticada a endometriose a uma mulher e poucos médicos a tratavam. A idade média em que se deteta esta doença é aos 27 anos. Calcula-se que cerca de 70% receberam anteriormente diagnóstico errado, comenta o ginecologista”.
A falta de informação, junto com a ausência de consciencialização social sobre este problema, provoca que muitas destas mulheres se sintam sozinhas e incompreendidas em relação à dor.
“O nosso trabalho passa por consciencializar a sociedade de modo geral e os profissionais de saúde para a existência e consequências desta patologia na vida da mulher. Felizmente o nosso trabalho começa a surtir resultados. Contudo começamos a deparar-nos com um outro problema. A falta de profissionais que compreendam verdadeiramente a doença e se dediquem a aprofundar os seus conhecimentos. E assim acompanhar de forma adequada as portadoras desta patologia,” salienta Susana Fonseca, presidente da Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose.
Endometriose
Esta doença crónica ocorre quando o endométrio – a parte que reveste o interior do útero e se desprende em cada ciclo através da menstruação – se encontra noutros locais, mais frequentemente na pélvis. Uma vez na pélvis, e com os ciclos menstruais da mulher, produzem-se pequenos sangramentos. Estes ao não serem corretamente eliminados pelo próprio organismo, serão responsáveis, em parte, pelo quadro de dor e infertilidade.
A importância de um bom diagnóstico
A endometriose é uma doença crónica. Pelo qual é importante que se diagnostique o quanto antes e se trate de forma adequada. Uma vez que pode piorar, é importante que a mulher disponha de toda a informação possível desde o primeiro momento.
Apesar de depender da idade e do contexto clínico, calcula-se que nos casos de endometriose a taxa de gravidez espontânea por ciclo é inferior a 2% (e entre 2 e 4,5% nos casos mais leves). Muito inferior aos 20% das mulheres que não padecem da doença.
Nos casos com maior sintomatologia recomendam-se medicamentos paliativos. No entanto, se necessário, pode efetuar-se uma cirurgia pélvica por via laparoscópica para eliminar as lesões. Contudo existem casos em que é necessário retirar parte dos ovários ou inclusivamente os ovários por completo. Prejudicando desta forma a fertilidade da paciente.
A presidente da MulherEndo reforça ainda que “ainda que a fertilidade seja um fator de peso na vida da mulher, a Endometriose é muito mais do que uma doença que pode prejudicar a gravidez. É uma doença complexa. Posto que afeta vários órgãos e comprometer a qualidade de vida da paciente prejudicando a vida pessoal, familiar, profissional e social. A Endometriose é hoje um problema de saúde pública!”
Mundialmente realiza-se todos os anos uma Marcha para dar a conhecer esta doença que é desconhecida para muitas mulheres. Este ano a marcha em Portugal realiza-se no Algarve no dia 24 de março pelas 15h.
Se padece de endometriose, leia os nossos conselhos para viver com endometriose: aqui.
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