Sabemos que o tempo é um dos principais inimigos da fertilidade da mulher. E por isso mesmo um dos focos dos nossos projetos de investigação. O IVI ganha novamente a batalha contra o tempo, esta vez mediante a estratégia Duostim. Apresentámos ontem no congresso anual da ESHRE, o trabalho com o título “The DuoStim strategy shortens the time to obtain an euploid embryo in por prognosis patients: a non-inferiority randomized controlled trial”.
DuoStim em que consiste
Uma alternativa para pacientes subótimas ou baixas respondedoras que frequentemente são recomendadas a acumular o maior número de ovócitos, e posteriormente embriões, no menor tempo possível, para realizar testes genéticos pré-implantação para a deteção de aneuploidias (PGT-A ). Pacientes com prognósticos graves, em cujos casos, otimizar os tempos de obtenção de ovócitos e embriões, é chave para a obtenção de um bebé saudável.
O blog falou com o Dr. Samuel Ribeiro, coordenador cientifico do IVI Lisboa para conhecer um pouco mais sobre esta técnica. A ideia do DuoStim surge da verificação de que ovócitos obtidos em fases distintas da folicular são igualmente úteis e viáveis. Embora a literatura já forneça estudos e dados sobre a realização de duas estimulações consecutivas em determinadas pacientes, somos os primeiros a comparar duas estimulações no mesmo ciclo com duas estimulações diferidas. A conclusão revela que as pacientes estimuladas pelo DuoStim conseguiram reduzir o tempo de obtenção de um embrião saudável para transferência quase pela metade e, portanto, uma maior probabilidade de reduzir o tempo de gravidez.
Detalhes do estudo
Para este trabalho, foram recrutadas 80 pacientes, maiores de 38 anos e com necessidade, devido às suas características, de realização de PGT-A. Foram estabelecidos dois grupos, um com DuoStim (o protocolo DuoStim consiste em realizar duas estimulações consecutivas, a segunda após a punção da primeira, sem esperar pela menstruação) e outro com 2 estimulações diferidas.
Por fim, e após algumas exclusões, permaneceu uma amostra de 27 pacientes em cada um dos grupos. Conforme observado pelo Dr. Samuel Ribeiro, “ao comparar os resultados dos dois grupos, constatou-se que não houve variação nos dias em que foram realizadas as duas estimulações, nem no número de ovócitos obtidos, nem de embriões saudáveis; a principal diferença estava no número de dias necessários para obter um embrião saudável. No caso de pacientes estimuladas com DuoStim, o tempo para atingir um embrião euploide foi de 23,3 dias em comparação com 44,1 dias no grupo controle, ou um grupo de pacientes estimuladas mediante duas estimulações convencionais”.
Conclusões e prespetivas para o futuro
A nível ginecológico, surgem três questões comuns: como amadurecer os ovócitos para programar a punção, se é necessário deixar os ovócitos menores sem extraí-los na hora de fazer a primeira punção e quanto tempo é necessário esperar entre a 1ª punção e a 2ª estimulação. No caso do IVI, e em resposta a esta última questão, esperam-se cinco dias para iniciar a segunda estimulação após a punção.
As características das pacientes em ambos os grupos foram semelhantes (mais de 38 anos, média de AMH 0,92 ng/mL, IMC e contagem de folículos antrais semelhantes). As diferenças nos ciclos entre os dois grupos também foram semelhantes (dose de gonadotrofina, dias de estimulação, taxa de fertilização, taxa de blastocisto, implantação, gravidez …). O único resultado diferente foi o tempo necessário para se obter um embrião euploide (cromossomicamente normal ou saudável), onde o tempo se reduziu quase para metade.
O DuoStim pode converter-se numa ferramenta fundamental em pacientes com necessidade de acumular ovócitos, que precisam ter e acumular o maior número de embriões saudáveis para realizar um diagnóstico genético pré-implantação. Pacientes abaixo do ideal, ou com baixa resposta, de um determinado perfil, com os quais ganharíamos um tempo valioso que, às vezes, as pacientes não dispõem, concluí o Dr. Samuel Ribeiro.
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