A atualidade mediática gira em torno do tema que continua a ocupar todos os âmbitos da nossa vida: a COVID-19. A preocupação e a incerteza crescem e, por isso, aumentam o número de estudos que procuram dar respostas a questões relacionadas com a doença.
Um estudo multicêntrico recentemente publicado pelo IVI e apresentado na última edição da ASRM (American Society for Reproductive Medicine), um dos maiores congressos de medicina reprodutiva do mundo, mostra que os doentes com grupo sanguíneo 0 positivo e Rh positivo têm maior proteção contra COVID-19.
Nos dados analisados na nossa população no período pós-confinamento de maio a junho, com uma amostra de 6.140 pacientes para SARS-CoV-2, constatamos que a incidência da doença (entendida como doentes que apresentaram anticorpo positivo, seja IgM ou IgG) foi menor nos doentes do grupo O e que o grupo Rh negativo foi o mais frequente entre os infetados, o que entra em contradição com o que havia sido publicado anteriormente”, revela o Dr. Antonio Requena, investigador e Diretor Médico do IVI.
O que se descobriu?
A taxa de seropositivos não variou significativamente com a idade e não foram observadas diferenças quanto ao género ou grupo sanguíneo. No entanto, descobriu-se que indivíduos Rh negativos tinham um risco ligeiramente maior de infeção do que indivíduos Rh positivos. Além disso, nas áreas de maior prevalência da doença, o percentual de IgM positivo também é alto e há maior risco de contágio quando um dos membros do casal já é seropositivo.
A ideia de que o grupo sanguíneo pode ter algum valor prognóstico em relação ao COVID-19 é interessante. Contudo, ainda estejamos numa fase muito inicial, onde é urgente determinar primeiro se esta associação é real.
O que se conhecia previamente?
A primeira indicação de associação entre grupo sanguíneo e Coronavírus surgiu durante o surto de SARS-CoV em 2002. Os resultados de um primeiro estudo publicado em 2005 indicaram que pacientes com grupo sanguíneo 0 tinham menor risco de infeção do que os outros grupos.
Quinze anos depois, num artigo não revisto por outros especialistas, cientistas da China relataram uma associação semelhante entre o grupo sanguíneo e o SARS-CoV-2: Observou-se que o grupo 0 apresentou menor risco de infeção pelo COVID-19, enquanto o grupo A apresentou maior risco de contágio.
O estudo conduzido desde então não produziu resultados consistentes. Em junho, um grupo de cientistas da Europa e Austrália publicou os resultados de um estudo, comparando os genomas de 1.610 pacientes infetados por COVID-19 grave e 2.205 doadores de sangue saudáveis. Os investigadores descobriram que variantes genéticas em duas regiões do genoma humano estavam associadas a um grau severo de doença e a um risco aumentado de mortalidade. Além disso, verificou-se que os indivíduos do grupo A apresentaram risco até 45% maior de desenvolver a doença de forma grave, enquanto os indivíduos do grupo 0 apresentaram risco 35% menor.
Em julho passado, o Dr. Latz e seus colaboradores indicaram que não encontraram nenhuma relação entre o grupo sanguíneo e a gravidade da SARS-CoV-2 (Anais de Hematologia). Não foi encontrada correlação significativa entre os dois fatores em indicadores como hospitalização, intubação ou óbito. No entanto, observou-se que indivíduos Rh positivos tinham maior probabilidade de teste positivo para COVID-19 do que Rh negativos, e que os grupos sanguíneos A ou AB tiveram uma taxa maior de positivos do que o grupo 0.
Num estudo publicado em abril e atualizado em julho, não revisto por pares, os resultados coincidem com os do Dr. Latz. Observa-se que indivíduos Rh positivos e grupo sanguíneo B apresentaram maior taxa de SARS-CoV-2 positivo do que o grupo 0. No entanto, esses dados não mostram associação significativa entre grupo sanguíneo e intubação e/ou óbito entre pacientes com COVID- 19, portanto, segundo o Dr. Latz, no momento, o grupo sanguíneo não deve ser utilizado como fator definitivo para identificar o maior ou menor risco de desenvolver esta doença de forma grave.
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