Junho é o mês da fertilidade. Para assinalar a data, o IVI apresenta um estudo intitulado “As motivações das dadoras de óvulos” da autoria da Dra. Filipa Santos, psicóloga clínica do IVI Lisboa. O universo do estudo corresponde a mais de 250 candidatas a dadoras de óvulos e os dados foram recolhidos durante o primeiro semestre do ano de 2017.
Espírito altruísta das dadoras
A dadora atual é uma mulher jovem, sensibilizada de um modo geral para a importância da solidariedade na nossa sociedade e em particular para a problemática da infertilidade. “É muito frequente que partilhe connosco que já é dadora de sangue ou medula óssea. Ou que nalgum momento da sua vida já se cruzou com alguém que teve dificuldades em engravidar. Esse facto tocou-lhe e quis informar-se mais acerca do tema”, explica a autora do estudo.
Os números confirmam a tendência, 75% das dadoras de óvulos, doam por altruísmo. “Conheço quem não pode ter filhos, e contribuir com a minha ajuda pode mudar a vida de alguém. É a felicidade de um casal”, partilhou uma dadora da clínica.
Onde procuram informação
Apesar da doação de óvulos ser um tema para o qual ainda é necessário um longo trabalho de sensibilização. No IVI notamos que hoje a dadora nos chega muito mais esclarecida. Pesquisa na internet, conversa com algumas amigas e amigos, fala com o companheiro ou com alguém da família, que a incentivam e reforçam o seu orgulho num gesto que pode ter um impacto tão significativo na vida de alguém. Por vezes já abordou o tema com o médico de família e/ou ginecologista e vem devidamente informada.
Quando vem a uma primeira consulta, de um modo geral, já vem informada. “Coloca questões muito específicas e procura tranquilizar-se em relação aos efeitos do tratamento e eventuais riscos. Coloca algumas questões acerca da vivência de quem está do outro lado do tratamento – a mulher recetora – mostrando-se solidária e empática”, reforça a psicóloga clínica.
Algumas dadoras vêm porque uma amiga que já doou as incentiva a vir. Vêm confiantes e motivadas. Tranquilas porque a amiga partilhou o processo com elas e seguras pelo acompanhamento que na clínica é proporcionado. Prevalece o sentimento de poder ajudar outra mulher em algo que é tão profundo e transformador na vida de uma pessoa como ter um filho.
Quando já tem filhos deseja ajudar outra mulher a engravidar, mostra-se solidária referindo “deve ser terrível não conseguir, se eu posso e não me prejudica, não tenho porque não fazê-lo”, “todas as mulheres que realmente o desejam deviam poder ser mães”, conta-nos a Dra. Filipa Santos.
A recompensa económica
Para algumas mulheres a recompensa também é um fator que pesa na sua decisão, no entanto, no fim do processo o que guardam para si é o contributo que mudou a vida de alguém. “No estudo que desenvolvemos apenas 25% das dadoras de óvulos, alegam que a recompensa as incentivou num primeiro momento a procurar informação e depois se associa a outras motivações como a possibilidade de ajudar e também a realização de exames médicos”, detalha a autora do estudo.
“Doei porque penso que sabe bem ajudar quem precisa, pois um dia podemos ser nós a precisar. A questão económica pode ser uma ajuda”, conta uma dadora.
São mulheres conscientes que a doação de óvulos é um contributo essencial para que alguém consiga ter um filho, como uma peça do puzzle sem a qual o puzzle não pode existir, ao mesmo tempo não sendo o todo do puzzle. Sabem que há outros intervenientes e que há uma série de etapas que têm de ocorrer para alcançar o objetivo final da tão desejada gravidez.
Em conclusão, “durante o estudo concluímos que de uma forma geral as dadoras de óvulos sentem-se bem com o processo, sentem-se muito acompanhadas e seguras”, reforça a autora do estudo.
Recorde-se que a doação é um ato voluntário, solidário e altruísta, existindo uma compensação económica pelos incómodos causados, cujo valor é fixado por lei e foi atualizado no passado dia 1 de maio de 2017, sendo de 843€ por doação de óvulos.
Dados sobre o estudo
A Dra. Filipa Santos, é psicóloga clínica do IVI Lisboa e trabalha em infertilidade há 11 anos.
O universo estudado foi de 258 dadoras e os dados foram recolhidos no primeiro semestre do ano de 2017. Do universo total de dadoras, 68% são jovens trabalhadoras, frente a 16% de estudantes, 12% atualmente desempregadas e 4% trabalhadoras e estudantes.