Um estudo dirigido pelos investigadores da Universidade Autónoma de Barcelona (UAB) e do Instituto Hospitalar del Mar de Investigaciones Médicas (IMIM), com a colaboração da Clínica IVI Barcelona, mostra pela primeira vez como a maternidade provoca alterações duradoiras na estrutura do cérebro da mulher, provavelmente destinadas a melhorar a capacidade da mãe para proteger e relacionar-se com o bebé. A investigação foi publicada na prestigiada revista científica Nature Neuroscience.
A gravidez implica alterações hormonais radicais e adaptações biológicas, mas os efeitos no cérebro são ainda desconhecidos. Pela primeira vez, uma equipa de investigadores levou a cabo um estudo que compara a estrutura do cérebro das mulheres antes e depois da sua primeira gravidez. A investigação é a primeira a mostrar que a gravidez implica alterações que se mantêm a longo prazo – pelo menos dois anos – na morfologia do cérebro da Mãe.
“Mediante a análise de imagens de ressonância magnética pode observar-se como as mulheres que viviam a sua primeira gravidez apresentam uma redução de matéria cinzenta nas regiões implicadas nas relações sociais. Parte destas regiões ativam-se quando a mulher observa a imagem do seu bebé, de forma que provavelmente as alterações correspondem a uma especialização do cérebro para encarar o desafio que supõe a maternidade”, explica o Dr. Sérgio Soares, diretor do IVI Lisboa.
Para desenvolver esta investigação, os autores compararam a ressonância magnética de 25 mulheres grávidas, antes e depois do parto, 19 companheiros/maridos dessas mulheres, e um grupo formado por 20 mulheres que não estavam, nem estiveram nunca grávidas, e 17 companheiros/maridos dessas mulheres. Foram acompanhados durante 5 anos e 4 meses.
A redução da matéria cinzenta ocorreu em todas as mulheres grávidas estudadas e é exclusivo deste grupo, o que indica que provavelmente se trata de uma alteração devido aos processos biológicos da gravidez.
Ainda assim, a investigação teve em conta as variações tanto em mulheres que fizeram tratamentos de fertilidade, como em mulheres que engravidaram de forma natural, e a redução de matéria cinzenta é praticamente idêntica em ambos os grupos.
Por outro lado, não se encontraram evidências que a gravidez provoque alguma alteração na memória, nem noutras funções intelectuais nas mulheres estudadas e, por tanto, acredita-se que a perda de substância cinzenta não implica nenhum défice cognitivo, mas sim o contrário.
“Acreditamos que é uma uma reestruturação do cérebro com finalidade adaptativa, ou seja, uma forma de por exemplo, aumentar a sensibilidade da mãe para detetar o estado emocional do seu bebé”, explica a equipa de investigadores do IVI Barcelona.