Março é o mês da endometriose; 31 dias em que se divulga informação sobre uma doença dolorosa, desconhecida e cujo o diagnóstico na maior parte dos casos, tarda em chegar. Ter dores menstruais fortíssimas, dor durante as relações sexuais, dor pélvica crónica, dor ao urinar ou evacuar, pequenas perdas de sangue antes ou entre o período, não é normal. Se apresenta alguns destes sintomas de maneira recorrente deve procurar a ajuda de um especialista.
A Mónica Rijo é uma das lutadoras que partilha a sua história para ajudar as mulheres que passam pela mesma situação a saber que podem ser mães apesar da endometriose.
A Mónica passou mais de 10 anos da sua vida a queixar-se de cólicas menstruais fortíssimas e nenhum médico desconfiou que pudesse ter endometriose. “Ter dores é normal” foi o que ouviu repetidamente ao longo de vários anos da sua vida. E por querer dizer bem alto a toda a gente que ter dores não é normal, é que a Mónica partilha a sua história com todas as mulheres neste mês da endometriose. Quer mostrar-lhes como é importante procurar um especialista, o quanto antes, quando se tem algum dos sintomas acima descritos.
Quase aos 30 anos, quando queria engravidar e não conseguia inscreveu-se para a consulta de infertilidade num hospital público. Esperou quase um ano pela consulta, e depois passou mais um ano até à laparoscopia. Foi após a cirurgia que os médicos lhe explicaram que o motivo da infertilidade era a endometriose.
Recorda o enorme vazio que sentiu. O seu pensamento foi: “E agora? Que doença é esta? O que é que eu vou fazer?” Mas a vontade da Mónica em fazer crescer a família era tão grande que rapidamente se tornou uma causa familiar. “A minha mãe sempre me apoiou, aliás foi ela através das suas longas pesquisas na internet que me falou da existência da endometriose e que possivelmente pelos sintomas que descrevia eu teria esta doença. O meu marido também sempre me ajudou, aliás a nossa relação saiu mais fortalecida de todo este processo”, conta Mónica com a emoção própria de quem nunca desistiu de um sonho, apesar de ter vivido períodos em que pensou que não teria forças para suportar tanta dor, em que se questionou “porquê eu?”, em que chorou dias e noites sem fim!
Após o diagnóstico Mónica entrou numa lista de espera, superior a dois anos, para tratamento de fertilidade. Durante este período fez coitos programados (consiste em induzir a ovulação com comprimidos ou injeções, monitorizar o crescimento folicular e programar a relação sexual) mas sem sucesso.
Em paralelo começou a pesquisar e através da Associação Portuguesa de Fertilidade descobriu o IVI Lisboa. Persistia o sonho: “Ser mãe era o meu maior sonho. Queria ter três filhos”. E decidiu marcar uma consulta no IVI. “Perante o meu historial o Dr. Sérgio Soares, recomendou-me ir a uma consulta com o Dr. António Setúbal, um especialista muito conceituado para saber qual a opinião do médico sobre o estado da minha endometriose. E assim o fiz. Depois de vários exames fui operada pela segunda vez. O meu corpo ficou “limpinho” e precisava de fazer o tratamento de fertilidade o quanto antes para ter maior sucesso”.
E foi no IVI que iniciou o tratamento tendo feito uma fertilização in vitro com recurso à técnica de ICSI e engravidou do seu primeiro filho que se chama Tiago, e que hoje já tem 7 anos. “O Tiago nasceu de cesariana, mesmo tendo engravidado 4 meses após a cirurgia a bexiga já estava colada ao útero”. “Nos primeiros 3 anos após o nascimento do meu Tiago eu ainda chorava de alegria e beliscava-me para saber se era mesmo verdade, se seria mesmo meu! O sonho tornou-se realidade, no entanto o sofrimento pela infertilidade é algo que fica para a vida e nunca se esquece. Vai ficar para sempre gravado na minha memória o momento em que o Dr. António Setúbal, após o nascimento do Tiago, me foi visitar ao quarto e pegou no Tiago com a sua mão enorme, coloco-o no ar e disse-me “valeu ou não valeu a pena?”, recorda Mónica visivelmente emocionada.
Dois anos mais tarde Mónica faz nova tentativa de gravidez, mas falha. Nada a faz desistir e três meses depois volta a fazer mais uma transferência embrionária e engravida da pequena Mariana, hoje com 4 anos de vida.
À medida que Mónica vai contando a sua história nota-se um brilho especial nos olhos quando fala dos filhos. “Ter dois filhos e logo um casalinho que tanta gente ambiciona é maravilhoso. Adoro os meus filhos, são eles que dão sentido à nossa vida!”
Recorda o tempo que passou em tratamento de fertilidade com um misto de emoções, acreditava que ia dar certo, mas tinha momentos em que sentia menos ânimo e confiança.
A todas as mulheres que têm endometriose e que sonham ser mães, a Mónica deixa uma mensagem de esperança: “eu consegui, e vocês também vão conseguir”. Têm é que estar acompanhadas pelos melhores, e tanto há bons especialistas em endometriose, como em procriação medicamente assistida.
Como a Mónica a endometriose afeta milhões de mulheres em todo o mundo (calcula-se que 1 em cada 10 mulheres tenha estes sintomas). É uma doença crónica, que além das dores intensas que provoca, que podem chegar a ser invalidantes, é uma das principais causas de infertilidade, explica Susana Fonseca, Presidente da Associação Portuguesa de Mulheres com Endometriose a MulherEndo.
“Entre 30 a 50% das mulheres que o grupo IVI recebe nas suas clínicas têm problemas de endometriose, o que converte a doença na terceira causa de infertilidade feminina. A procriação medicamente assistida tem respostas para as mulheres que precisam de conciliar a doença com a maternidade, seja numa perspetiva preventiva, através da vitrificação de óvulos ou para ajudar a engravidar com recurso a tratamentos de fertilidade. Além disso, sabe-se que é importante as mulheres com endometriose engravidarem, porque além de conseguirem realizar o sonho da maternidade, a própria gravidez tem benefícios para a doença, já que alguns níveis de endometriose se curam ou se reduzem durante o período em que o ovário permanece inativo”, explica o Dr. Sérgio Soares, diretor do IVI Lisboa.
A endometriose em números
– Afeta 15% das mulheres portuguesas em idade fértil
– O diagnóstico na maior parte dos casos surge entre os 25 e os 35 anos de idade
– Calcula-se que nos casos de endometriose a taxa de gravidez natural por ciclo é menor a 2% – nas mulheres que não têm a doença esta taxa situa-se nos 20%.
Uma das iniciativas mundiais para dar a conhecer a doença é a realização da Endomarcha. Em Portugal é organizada pela Associação MulherEndo, em parceria com a Free Challenge e com a InfraQuinta, realiza-se no Algarve no próximo dia 24 de março às 15h. As inscrições são obrigatórias e podem ser feitas no site da associação