É frequente vermos na rua carrinhos de gémeos, irmãos gémeos ou gémeos idênticos (ou nem por isso) de diferentes idades… O número de gravidezes múltiplas aumentou progressivamente nos últimos anos, o que costuma ser associado ao uso de técnicas de reprodução assistida.
São várias as evidências que mostram a importância de se optar pela transferência de um único embrião (SET) e reduzir ao máximo as gravidezes múltiplas, mas a taxa atual de gravidez gemelar em relação a um tratamento reprodutivo ronda os 20%.
“Cientes desta situação e em sintonia com o conhecimento científico, a política atual do IVI é optar sempre que possível pela transferência de um único embrião e isto reflete-se nos nossos dados. A SET passou de 22%, em 2009, para 88%, em 2018, nas clínicas IVI espalhadas por todo o território espanhol, o que representa uma redução de 75% nesta última década. A implementação desta estratégia em quase 100% dos nossos tratamentos deve-se ao facto de conhecermos melhor os mecanismos que regulam a recetividade endometrial, a técnicas como o Timelapse, que permite ver a evolução do embrião ou a melhorias na seleção embrionária graças ao diagnóstico genético pré-implantacional, para descartar embriões com anomalias cromossómicas. Isto tudo complementado pelo trabalho educacional tanto dos profissionais médicos como da população, para que se entenda que a gravidez múltipla não é um objetivo a alcançar, mas antes uma complicação a evitar”, comenta o Dr. Agustín Ballesteros, diretor do IVI Barcelona, Lleida e Girona.
Atualmente, 1 em cada 80 gravidezes espontâneas é gemelar e, no caso de mulheres e casais que optam pela medicina reprodutiva, o rácio diminui para 1 em cada 4, deixando clara a necessidade de fazer face a uma realidade tão pouco vantajosa como esta.
“De acordo com dados da Sociedade Espanhola de Fertilidade (SEF), a transferência de dois embriões diminuiu de 72%, em 2012, para 56%, em 2016, ao passo que a transferência de um único embrião aumentou de 20% para 42%. Estamos no caminho certo, no entanto, a eficácia reprodutiva em seres humanos é muito baixa e essa circunstância pode piorar com o aumento da idade materna no momento da primeira gravidez. Este adiamento da maternidade implica um aumento na procura de tratamentos de reprodução assistida. As mulheres e os casais com problemas reprodutivos optam frequentemente por pedir ao seu especialista para transferir mais de um embrião, convencidos de que assim terão mais hipóteses de conseguir uma gravidez a termo. No entanto, os resultados publicados em diferentes estudos indicam que não há diferenças na taxa de gravidez acumulada com um único embrião comparativamente com a taxa de gravidez clínica quando se transferem dois, tanto em ciclos com gâmetas próprios como de doação, a que se somam os riscos que representam as transferências múltiplas quer para a mãe quer para o bebé”, refere o Dr. Ballesteros.
Complicações associadas às gravidezes múltiplas
As principais complicações associadas às gravidezes múltiplas que podem afetar a mãe são: maior proporção de cesarianas, hipertensão, rutura prematura de membranas, ameaça de parto prematuro ou uma maior incidência de hemorragias pós-parto.
No que respeita ao recém-nascido, a gravidez múltipla pode ser acompanhada de prematuridade (algo muito frequente neste tipo de gravidez), defeitos congénitos, atraso no crescimento intrauterino, baixo peso à nascença ou até mortalidade perinatal.
O principal objetivo dos tratamentos de reprodução assistida é ter recém-nascidos vivos saudáveis e que estes tratamentos não representem um risco para a mãe.
“Partindo dessa base, e embora a transferência seletiva de um único embrião não seja atualmente uma prática padrão em todos os centros de reprodução assistida, a verdade é que, em Espanha, em 3,5% dos casos está-se a transferir três embriões e em 65%, dois embriões. Estes dados são menos acentuados nos casos de doação de gâmetas, embora a transferência de dois embriões ainda seja a prática mais comum. É portanto necessário, tal como já referimos, definir políticas para reverter essa situação”, conclui o Dr. Ballesteros.
Em busca de políticas eficazes para a redução de gravidezes múltiplas
Sabia que o custo de saúde de gravidezes múltiplas representa o dobro do custo das gravidezes únicas?
E não só isto como também que os custos associados ao parto são 1,7 vezes mais caros do que os de uma gravidez única?
“Chegámos de facto a ponderar inclusivamente se será necessário legislar o número de embriões a transferir, como fizeram no modelo belga de saúde pública, no qual todos os tratamentos para onde se transfere um embrião são reembolsados. O impacto desta política traduz-se em 50% de ciclos com SET, uma diminuição na taxa de gravidez múltipla de 27% para 11%, uma manutenção das taxas de sucesso e uma menor proporção de internamentos na unidade de cuidados intensivos pediátricos e tratamento por sequelas em recém-nascidos. A poupança a curto prazo é estabelecida em 7 milhões de euros e, a longo prazo, em 50-70 milhões de euros. No entanto, estamos convencidos de que não é necessário legislar, sendo provavelmente suficiente incentivar essas práticas por meio de um embriologista ou ginecologista que partilhe desta opinião, aliado a um bom aporte de informação para as mulheres e casais”, acrescenta o Dr. Ballesteros.
Os grandes avanços científicos no campo reprodutivo antecipam grandes oportunidades para o SET, uma vez que, com técnicas e tecnologias de ponta como as que usamos, os resultados alcançados encaminham-nos para uma melhoria constante com as maiores garantias para as mães e os seus bebés.
Prosseguimos com a investigação!
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